segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Quem ganha e quem perde com o eventual apoio de Fogaça a Dilma

O significado da vitória de Temer – apoio iminente a Dilma Roussef


A ala pró-Dilma do PMDB foi responsável pela reeleição de Temer como presidente nacional do partido. Por ele passarão todas as negociações de aliança para a Presidência. Não adianta dizer que esta reeleição não significa que Temer será o vice de Dilma, que o vice pode ser Meirelles. O que importa é que fica difícil acreditar em tese de candidatura própria do PMDB nacional com Temer na presidência. Por isso que o Planalto festejou esta vitória de Temer. Por isto que os peemedebistas pró-Serra se preocuparam. E com razão. Principalmente no Rio Grande do Sul.


Gaúchos resistentes ao eventual apoio a Dilma


Entre as lideranças gaúchas, Simon foi o único que não compareceu à convenção nacional, talvez por saber o resultado que dali adviria. Záchia é pró-Serra e considera que os estados dissidentes da aliança PT X PMDB deveriam ter a possibilidade de defender outra candidatura. Fogaça apóia a pré-candidatura do Roberto Requião, governador do Paraná, e isto tem deixado-o confortável para resistir às pressões pró-Dilma dos pedetistas no Estado. Padilha ainda acredita na tese da candidatura própria.


Padilha, ao crer que as bases do PMDB querem Requião e que se farão ouvidas, parece ignorar que as vontades da cúpula nacional do partido têm prevalecido em todos os últimos episódios que viraram manchete. Tanto no caso Renan Calheiros como nos episódios envolvendo Sarney, não só as bases do partido como as posições do Rio Grande do Sul foram patroladas por quem realmente manda no PMDB. Tudo em nome de um projeto de poder nacional que está em gestação neste momento. O apoio que Lula deu a Calheiros e a Sarney será devidamente retribuído, com o apoio iminente do PMDB à Dilma.


A verdade é que o apoio a Dilma Roussef é intragável para a grande maioria dos peemedebistas gaúchos. A polarização PT x PMDB construiu a história política no nosso estado. Podemos não gostar desta polarização, chamá-la de atrasada, prejudicial ao Estado, mas não podemos negá-la. Ela faz parte do DNA deste Estado.


Quem enfraquece e quem ganha com o eventual apoio de Fogaça a Dilma?


Bobagem dizer que é bom para o PMDB apoiar Dilma porque isto enfraquece o discurso de Tarso. Pelo contrário, se Fogaça estiver apoiando uma candidata do PT isto só fortalece Tarso, candidato do PT. É óbvio. Como criticar, mesmo que construtivamente, o modo PT de administrar o RS e apoiar um projeto petista nacional? Como ficam os eleitores antipetistas que votaram em Fogaça nas últimas eleições para acabar com os 16 anos de hegemonia que o PT tinha na capital? Para onde vão estes votos? Quem enfraquece é Fogaça, que perde coerência, apoios e potencial discurso.


Serra também enfraquece com o eventual apoio de Fogaça a Dilma. É estrategicamente vital para o PSDB vencer no RS. Em 2006, Lula estava na frente de Alckmin em todas as pesquisas. A oposição precisava de um segundo turno para tentar vencer o PT. É só analisar o mapa geopolítico das últimas eleições para ver que aqui pras bandas do Centro-Sul só deu Alckmin, e mesmo assim não bastou para uma vitória. Mas a vitória de Alckmin foi o suficiente para garantir um segundo turno. E dar uma segunda chance ao PSDB - a péssima condução da campanha de Alckmin acabou não ajudando e Lula venceu até em Minas Gerais, onde Aécio tinha ganhado para governador -.


Agora o quadro se inverte. Serra está na frente de Dilma nas pesquisas. O melhor para Serra é tentar ganhar no primeiro turno. Por isto é tão importante ele ter um palanque forte como o de Fogaça. Deixar Yeda Crusius como único palanque disponível para Serra é o sonho do PT. Ter os dois primeiros colocados nas pesquisas para o governo do Estado defendendo o mesmo projeto nacional favoreceria a Dilma. Se o PT vencer no RS é capaz de levar esta eleição pro segundo turno e aí tudo ficará muito mais difícil para a oposição.

Ter Fogaça apoiando Dilma também fortalece uma eventual terceira via no estado.


A terceira via e o antipetismo


O eventual apoio de Fogaça a Dilma deixará os eleitores antipetistas sem pai nem mãe. E não são poucos estes eleitores. As pesquisas mostram que cerca de 30% dos gaúchos não votam no PT. O medo de que Olívio vencesse Rigotto no segundo turno, com base nas pesquisas apontadas em 2006, deu uma reviravolta na eleição dando a vitória à Yeda. Os números das simulações de segundo turno mostravam que Olívio (PT) chegava muito perto de Rigotto (PMDB), que buscava sua reeleição. Muitos eleitores simpáticos a Rigotto e contra o PT votaram em Yeda na tentativa de tirar o PT do segundo turno e acabaram por tirar Rigotto da disputa.


Antes, a própria vitória de Rigotto foi uma case que prova esta tese. Britto (ex-PPS), buscando um novo mandato pelo PPS (Britto foi governador pelo PMDB de 1994 a 1998, quando perdeu para o Olívio, do PT), na disputa contra Tarso Genro (PT) estava muito bem colocado nas pesquisas antes do início do horário político eleitoral. Sua vitória era praticamente assegurada apesar do desgaste político que acumulava. Começou o horário político e Rigotto, uma simpática novidade com apenas 3% das intenções de voto deu um salto nas pesquisas quando apareceu bem colocado contra o PT nas simulações de segundo turno. Dali em diante os votos migraram com grande velocidade de Britto para Rigotto, novo virtual candidato forte contra o PT.


Nas eleições de 2004, que tiraram o PT do comando da capital, acabando com uma hegemonia de 16 anos, todas as forças políticas se uniram em torno de Fogaça para vencer o PT. Aqui voto útil tem sido sinônimo de voto anti-PT. Tem muito candidato qualificado que já sentiu esta força na pele, porque não adianta ser bom, tem que ser forte contra o PT.


Os dados mostram que os votos migram no RS, a chamada volatilidade eleitoral, mas entre blocos de igual ideologia. Os votos de esquerda e centro-esquerda de um lado e os de direita e centro-direita do outro. Se Fogaça apoiar Dilma, será farinha do mesmo saco petista e os eleitores que não querem o PT irão buscar seu novo candidato. Neste cenário, o PDT deveria se contentar com a prefeitura de Porto Alegre e com cargos importantes no governo e ajudar a construir uma base grande de apoios. Qualquer interessado em pressionar o PMDB gaúcho pró-Dilma estará jogando contra o projeto de Fogaça ao Piratini.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo blog. Seguirei. beijo

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  2. Fernanda parabéns pela iniciativa, a pluralidade no debate político é essencial, ainda mais quando se tem uma voz jovem e mais nova no meio! Ganhaste uma seguidora:)

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  3. A análise está perfeita e a possibilidade de uma nova edição da terceira via é um fato, mas nossos políticos e partidos não terão a grandeza de se unirem contra a polarização e muitos aceitaram a coadjuvância em troca das eleições proporcionais e de farelos de governo feitos com cargos em comissão. Abraço e parabéns, Luciano.

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