Após cinco anos afastada deste blog escolhi um tema provocador para a minha
volta. As difíceis definições de alianças para a eleição majoritária no Rio
Grande do Sul. Neste ano atípico de 2014, onde provavelmente teremos quatro
candidatos ao governo do estado e quatro candidatos ao senado, as alianças
estão mais do que nunca atreladas ao cenário nacional. As afinidades eletivas
serão definidas por quem pode dar palanque para Dilma, Aécio e
Campos/Marina.
Mas isto não é matemática simples. Vou usar como exemplo o PMDB. Exatamente
como há quatro anos atrás vemos o PMDB gaúcho fazer o discurso de dissidência
da campanha nacional. PMDB e PT gaúcho não se bicam, são rivais históricos. Mas
as chances do PMDB gaúcho ficar independente do cenário nacional e poder fazer
campanha para Aécio ou Campos é remotíssima. O PMDB gaúcho era Serra em 2010,
com a exceção de Mendes Ribeiro e Padilha. Fogaça era Serra em 2010, mas não
podia falar sobre isto no HPEG. Nos últimos dias de propaganda política o PMDB
nacional desceu por aqui e impôs a colocação de Michel Temer no programa do
Fogaça. E acabou a independência. Fogaça passou por murista a campanha inteira
e no fim teve que aderir a campanha de eleição de Dilma.
Neste sentido não vejo diferença entre o cenário de 2010 e o de 2014. Os
riscos do PMDB são os mesmos. Seja Sartori candidato, seja outro qualquer.
Lideranças de oposição ao PT como o senador Pedro Simon podem até desejar o
contrário, mas a história tem sido outra. A tendência é que os argumentos do
trio Michel Temer, Padilha e Mendes revertam as dissidências. O apoio a Dilma
restringe as alianças que os peemedebistas poderiam fazer e o partido fica
praticamente obrigado a ter candidato próprio. Este é o cenário mais provável.
No caso do PSB, que já está coligado com a REDE e possivelmente com o PV, a
necessidade é garantir um palco para Eduardo Campos. Casando com o PMDB, teria
que arcar com o risco eminente do partido não conseguir ficar independente do
cenário nacional, como já ocorreu antes. No caso de entrar na coligação com a
candidatura ao Senado, em acordo com o Senador Simon, poderia ter independência
discursiva no horário político. Mas seria um híbrido.
No caso do PSB coligar-se com o PP gaúcho, partido que também se coloca de
forma independente do PP nacional (que tem Ministérios no governo Dilma), a
chapa ficaria bastante competitiva, mas teria que azeitar as relações entre
militantes dos partidos envolvidos que já diferiram em questões econômicas e
ambientais, como o Código Florestal, por exemplo. Por outro lado o cenário
econômico previsto para o RS é bastante sombrio e o próximo governador terá que
ter a coragem para fazer as reformas necessárias e enfrentar interesses
corporativos. Na minha opinião a candidatura de Ana Amélia é a que tem maiores
chances de vencer o PT de Tarso, pois tem o discurso da austeridade nas
finanças públicas, da gestão eficiente e também dialoga com os diversos setores
produtivos do Estado. Além disto a Senadora tem credibilidade e aparentemente
seu capital social e político não sofreu desgastes com a derrota de Manuela à
prefeitura.
O PDT tem Vieira da Cunha na cabeça de chapa e Lasier na candidatura ao
Senado, sobrando só o posto de vice para negociar. Vieira já esteve reunido com
representantes de sete partidos políticos para discutir um projeto de governo
para o Rio Grande do Sul. O frentão seria composto por PDT, PSD, PSC,
DEM, PR e PPS, partidos que assinaram um manifesto intitulado "Parceria
pelo desenvolvimento do Rio Grande do Sul". O PSD ainda poderá vir a ter
candidatura própria e enfraquecer o frentão.
O PDT nacional detém o Ministério do Trabalho desde 2007 e apesar do presidente nacional da sigla, Carlos Lupi
(PDT), já ter adiantado que o partido apoiará a reeleição da presidente Dilma
Rousseff (PT) nos estados, há um grupo de pedetistas que defende candidatura
própria e a imediata entrega dos cargos federais. O PDT gaúcho pode optar pelo
apoio a Campos, mas a decisão sairá na convenção oficial do PDT, dia 21
de junho, em São Borja.
Já o PSDB está bastante isolado neste contexto, tendo que abrir palanque
para Aécio, mas sem parceiros para alianças. Poderá ser uma alternativa
para o PMDB, em caso do partido conseguir se manter neutro.
O PT de Tarso tem o PTB, os pequenos partidos como aliados e ainda a indefinição do
PC do B de Manoela. O núcleo pensante do Partido dos Trabalhadores teria até
sondado o líder empresarial e presidente do PSD, José Cairoli para o posto de
vice, em uma composição que ajudaria a dar uma imagem desenvolvimentista para a
chapa. Cairoli é pré-candidato ao governo do Estado e dificilmente se uniria ao
PT, mesmo por que tem discordâncias históricas em relação a temas caros aos
petistas como o Salário Mínimo Regional e os altos impostos.
Toda esta análise mostra o complexo cenário que a política gaúcha vive hoje,
com partidos regionais querendo decidir as alianças conforme o contexto
político regional, mas enfrentando forças que ainda não mostraram em plenitude
a pressão que podem exercer. O quadro deve estar decidido entre junho e julho,
durante a Copa do Mundo, mas as campanhas prometem ser bastante
interessantes.
Provavelmente Dilma contará com três palanques: PT, PMDB, e talvez o PDT.
Aécio apenas com o do PSDB e Campos/Marina dependendo dos rumos do PSB, que não
tem candidato próprio ao governo, mas que está entre apoiar Ana Amélia e
Sartori. A aliança com a forte Ana Amélia seria a chance de Campos ter um
palanque, visto que a tendência é Dilma ter três palanques, tornando a disputa
muito dura.
Uma coisa é certa: a eleição será dura. O jogo não está jogado.
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