É inegável a influência que as pesquisas de intenção de voto tem sobre a escolha do eleitor. Principalmente pela forma como são publicadas na grande mídia e pelo destaque que os meios de comunicação dão para alguns dados da pesquisa em detrimento de outros. Só para se ter um exemplo, em países como a França, as pesquisas eleitorais não podem ser publicadas nas duas últimas semanas antes da eleição. Aqui são publicadas até a véspera. No caso específico do Rio Grande do Sul, devido ao perfil eleitoral do gaúcho *, as pesquisas influenciam ao despertar um comportamento latente: a polarização da eleição entre dois blocos ideológicos, apontando quem são os dois candidatos mais fortes para a disputa, sinalizando em direção ao voto útil.
Partindo deste pressuposto, podemos assumir que toda vez que o quadro se repetir e tivermos disputas políticas divididas entre um grupo político “A” e um grupo “anti-A”, a tendência é que o apelo ao voto útil, principalmente através da utilização de pesquisas de simulação de segundo turno, influencie de forma decisiva o resultado final da eleição.
A divulgação que foi dada a última pesquisa Datafolha vem a fortalecer estes indicativos, mostrando o favoritismo de Tarso e Fogaça sobre todos os outros candidatos. Para grande parte dos formadores de opinião a eleição está para Fogaça, o único que teria “reais” condições de vencer Tarso no segundo turno. E, neste cenário, a viabilidade de uma outra candidatura alternativa, uma terceira via, estaria impossibilitada. Projeta-se assim, uma eleição de dois turnos que funciona como se tivesse apenas um turno, pois como o eleitor gaúcho não quer correr o risco de deixar seus “inimigos” chegarem ao poder, deixam de votar no seu candidato de preferência.
Mas Rigotto venceu as eleições sobre o PT, chupando os votos do desgastado Britto depois que as simulações de segundo turno o provaram viável em uma disputa de segundo turno. Rigotto teve a arrancada sustentável que uma terceira via precisa. Yeda se elegeu governadora graças ao medo deste eleitorado (anti-PT) de que Rigotto perdesse para o PT, pois apareciam com índices muito próximos nas simulações de segundo turno. Votaram em massa em Yeda achando que tirariam o PT e tiraram Rigotto. Os votos migraram entre candidatos do mesmo bloco ideológico para candidatos que não eram os favoritos meses antes do início do HPEG. O imponderável acontece.
Quem pensa que esta eleição já está definida engana-se ou não está vendo as pesquisas com a profundidade que elas merecem. Nunca antes houve uma eleição tão propícia para a construção de uma candidatura alternativa. Tarso tem o eleitorado cativo da militância petista mas dificuldades de penetração no restante do eleitorado gaúcho de centro-direita. Fogaça tem o ônus e o bônus de ter administrado a capital por 6 anos. Yeda tem uma rejeição histórica e ainda está latente, na cabeça da população, os acontecimentos polêmicos ocorridos em sua gestão. E a insatisfação da população com os “atores” políticos que tem lhes sido apresentados está presente nas pesquisas.
Na Methodus encomendada pelo PSB-RS e publicada em 22 de março, 35,4% dos eleitores se manifestaram saturados com as candidaturas postas e ansiando por um novo nome em que possam depositar sua confiança e seu voto (ver tabela abaixo). Nesta mesma pesquisa 66,3% dos eleitores disseram não ter voto definido, podendo mudar de opção até o dia da eleição (ver tabela abaixo). 73,2% não tinham nenhum nome na cabeça na pesquisa Espontânea, onde os nomes não são apresentados ao eleitor. Na Datafolha publicada pela RBS no dia 4 de abril, o índice de eleitores que não pensam em ninguém para votar na pesquisa espontânea, é 74%. Nos cenários apresentados com os nomes, o índice de Não Sabe + Nenhum/Branco/Nulo fica em torno de 20%. E isto que diversos nomes de “candidatos não oficiais” estavam postos nos cenários, diluindo os votos.
Neste cenário tudo permanece indefinido. O eleitorado não é cativo, salvo o caso específico dos militantes partidários os votos estão aí para serem conquistados. Continuar martelando na cabeça dos eleitores que o pleito é entre Fogaça e Tarso é um desserviço que a grande mídia faz para a democracia. Seria mais correto dizer nas manchetes que 74% dos eleitores ainda não tem um nome na cabeça, ou que 35% querem uma alternativa para o que está sendo colocado.
A partir da semana que vem e até o final de abril serão conhecidos os candidatos que permanecerão na disputa do Piratini e suas respectivas coligações. Deste momento em diante é que realmente começa a campanha, que tem seu ápice no HPEG e na campanha de rua.
Pelo que está sendo apresentado até o momento, a coligação PTB x DEM cuja tendência é se viabilizar dia 12 de abril, com o nome de Lara encabeçando a disputa, dará trabalho extra para os que gostariam que a eleição já estivesse decidida. As pesquisas que mostraram os índices de Lara até o momento mudarão depois que a coligação com o DEM estiver fechada. O candidato deverá ter de saída, em torno de 7%. Com apenas 5% de rejeição e o maior espaço de TV - 6 minutos - temos aí uma potencial candidatura alternativa. Dará palanque para Serra no Estado e trará, sem dúvida, um discurso de renovação. Se acertar no discurso, poderemos ter surpresas nesta eleição.
METHODUS
DECISÃO DE VOTO
Em relação às suas escolhas, você diria que:
Já está decidido, e é muito difícil que mude de opinião - 33,7%
Está quase decidido, mas pode mudar de opinião - 28,3% >
Não se decidiu ainda, e é bem provável que mude de opinião - 14,9% >>> 66,3 %
Não tem nada de decidido, essa é apenas uma opinião inicial - 23,1% >
ALTERNATIVA DE MUDANÇA
Antes de Yeda, o PMDB e o PT governaram o Rio Grande do Sul. Pensando no futuro e nas mudanças que o Rio Grande precisa, você diria que a melhor alternativa para mudar o Estado é:
Uma alternativa nova, diferente de Yeda, do PMDB e do PT - 35,4%
A volta do PT para o Governo do Estado - 31,2%
A volta do PMDB ao governo do Estado - 19,4%
Yeda continuar no governo do Estado - 14,1%
* polarizado antes pelos blocos PTB x Anti-PTB (Noll & Trindade) e hoje pelo voto PT x anti-PT