quinta-feira, 11 de março de 2010

A lógica do eleitor

Ainda tem gente que acha que o eleitor vota no candidato que mais gosta. Ledo engano. Vota no menos pior, vota mais contra um do que a favor de outro. A instituição do segundo turno, ao invés de propiciar maior debate entre a capacidade de cada um dos candidatos não tem força alguma contra o voto útil. As pesquisas de simulação de segundo turno se encarregam de conduzir a disputa sempre entre dois grupos. E já mudaram o resultado de muita eleição no nosso estado. Por exemplo, o "voto útil anti-PT", como eu o chamo, teve influência determinante no mínimo nos últimos dois pleitos para governo do Estado e nas duas últimas eleições para a prefeitura de Porto Alegre.

Fiz minha dissertação de mestrado sobre o tema, e publiquei alguns artigos. Vou postar abaixo um trecho do artigo Comportamento Eleitoral. Quem quiser ler na íntegra me envie o email que eu mando. São 34 páginas ao total. 
A LÓGICA DO VOTO ÚTIL

A decisão do voto é concebida como produto de uma ação racional individual orientada por cálculos de interesse e utilidade pessoal, tendo em vista o objetivo de maximizar ganhos (DOWNS, 1957). Em toda a opção de voto existe um grau de racionalidade envolvido, dentro de determinado contexto, e todo voto envolve, em determinada medida, algum interesse. O voto é racional como “razoavelmente dirigido para a realização de objetivos conscientes” (DOWNS, 1957, p.26). Em um sistema multipartidário o

eleitor racional primeiro decide qual partido ele crê que lhe trará maior benefício; daí ele tenta estimar se esse partido tem qualquer chance de ganhar. Ele faz isso porque seu voto deveria ser ampliado como um processo de seleção, não como uma expressão de preferência. Daí, mesmo que prefira o partido A, ele estará “desperdiçando” seu voto em A se esse não tiver nenhuma chance de vencer porque muitos poucos outros eleitores o preferem a B ou C. A escolha relevante, nesse caso, é entre B ou C. Como o voto em A não é útil no processo real de seleção, votar nele é irracional (DOWNS, 1957, p.68).

Em relação à divulgação de simulações de segundo turno encontramos uma observação muito interessante no trabalho de Downs (1957). O autor expõe que, para auferir a utilidade do voto o eleitor precisa saber como os outros votarão. Ele precisa conseguir fazer “uma estimativa de suas preferências” porque “na ausência de qualquer informação sobre o que os outros eleitores provavelmente farão, o eleitor sempre vota no partido que prefere” (DOWNS, 1957, p.69). Esta colocação e prioritária para este artigo porque consideramos que a divulgação massiva das pesquisas funciona como um gatilho para o voto útil. Sobre o eleitor Downs complementa: “(...) quanto menos chance de vencer ele sente que seu partido favorito tem, mais provável é que mude seu voto para um partido que tem uma boa chance” (DOWNS, 1957, p.69).

O que cria o clima de mais chance ou menos chance é o nível de repetição dos resultados de uma pesquisa e o enquadramento dado a ela pelos meios de comunicação de massa. Além disso as perguntas dentro da pesquisa ajudam a moldar o cenário: “qual o candidato que você acredita que tem mais chances de ganhar” (expectativa de vitória), “qual o candidato que você mais rejeita” (rejeição), “quem, você acha que tem mais chances de vencer no segundo turno” (simulação de segundo turno). Também colabora para a construção do CR-P a forma como os jornais trabalham as manchetes (BARRETO, 1997; BAQUERO, 1995; LIMA, 2004a, 2004b) solidificando os dois primeiros candidatos, dando a disputa como determinada semanas antes da eleição e publicando manchetes onde a margem de erro é ignorada, no estilo “fulano sobe três pontos”, “beltrano apresentou queda de dois pontos”, quando a margem de erro é quatro pontos, por exemplo.

Apesar do sistema eleitoral americano estar em um contexto bem diferente do brasileiro, outro ponto interessante em Downs (1957) é o exemplo que dá ao citar uma disputa ocorrida em uma eleição presidencial americana, em 1948, entre o Partido Progressista, o Partido Democrata e o Partido Republicano:

quando o partido Progressista lançou um candidato na eleição presidencial americana de 1948, alguns eleitores que preferiam o candidato progressista a todos os outros, ainda assim votaram no candidato Democrata. Fizeram isso porque sentiram que seu candidato favorito não tinha qualquer chance e quanto mais as pessoas votassem nele, menos votariam nos Democratas. Se a votação nos Democratas fosse muito baixa, os Republicanos – o grupo menos desejável do ponto de vista Progressista – ganhariam. Desse modo, um voto no seu candidato favorito ironicamente aumentava a probabilidade de que ganhasse aquele que eles menos apoiavam. Para evitar este último resultado, eles votaram no candidato que ocupava uma posição intermediária em sua ordem de preferência (DOWNS, 1957, p.68).

Isso significa que em um cenário de disputa eleitoral onde exista um partido buscando a reeleição, os eleitores que não desejam que isto ocorra tendem a deixar de lado o candidato ou partido de sua preferência, escolhendo o candidato que de acordo com as probabilidades eleitorais tiver mais chances de derrotar a situação. Nesse sentido, o voto útil também pode ser considerado um voto pela negativa, vota-se para que alguém não ganhe, para tirar este ou aquele do poder. Eleitores que não respeitam lealdades partidárias são usualmente considerados voláteis. Veremos a seguir que não ter lealdade a um partido específico não significa necessariamente ser desideologizado.

 Estas observações remetem à discussão sobre volatilidade, tema tratado a seguir. (Volatilidade Eleitoral e Volatilidade Ideológica)

Para quem quiser maiores informações, em 2007, publiquei um artigo na Revista Debates da UFRGS sobre a relação entre a mídia e a opinião pública na formação da escolha do eleitor: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/debates/article/view/2472

Em 2008 publiquei na Revista Pensamento Plural, da UFPEL, um estudo de caso sobre as eleições em Porto Alegre intitulado Cenários de Representação Política e Comportamento Eleitoral. Quem quiser eu mando uma cópia por email também.

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