As pesquisas de intenção de voto, publicadas nos meios de comunicação e a repercussão que elas alcançam na mídia, forjando os CR-P’s bem como o uso que o marketing político fez destas pesquisas através de ações dentro do HPEG são de grande influência para a decisão eleitoral. As simulações de segundo turno tem papel central na decisão de uma eleição. São elas que indicam o caminho do voto útil e cristalizam no imaginário popular quem é o candidato com as maiores chances de vencer.
Para determinar os possíveis efeitos deletérios ou manipulativos que as pesquisas possam ter sobre os eleitores deve-se dar especial atenção para a forma como estes resultados são divulgados e apresentados (BAQUERO, 1995). Devemos nos perguntar “quem apresenta estas informações e qual o interesse destas pessoas ou organizações no processo eleitoral” (BAQUERO, 1995, p.87). A forma e a intensidade com que as pesquisas são divulgadas as torna ferramentas para a manipulação do eleitorado (BARRETTO, 1997). Para Barretto (1997) os mídia revestem as pesquisas eleitorais com um aparente invólucro de coisa certa e definitiva, fazendo o eleitor pensar que seu resultado é fator inalterável.
Na realidade as pesquisas não são uma realidade solidificada, são o retrato de um momento específico, dentro de um contexto específico. Outro problema em relação a interpretação das pesquisas e a forma como são divulgadas é que os meios de comunicação costumam desprezar os elevados percentuais de indecisos e interpretam o resultado das pesquisas exclusivamente baseados nos baixos índices de eleitores que já se definiram. Outra questão é que muitas vezes os mídia ignoram a margem de erro das pesquisas transformando em manchetes pequenas quedas ou subidas dos índices dos candidatos, que estão dentro da margem de erro.
A questão básica de como os meios de comunicação tratam a divulgação das pesquisas é relevante no sentido de que pode prevalecer, no caso da TV, o “estatuto visual da verdade” (ALDÉ, 1998) ou ainda, na intenção de influenciar um CR-P para privilegiar um candidato, como vemos em Lima (2004b). Desta forma as pesquisas eleitorais se tornaram eficazes instrumentos de propaganda eleitoral. A divulgação de suas projeções é um dos mais importantes meios de se “eleger” ou “derrotar” um candidato. Quanto mais cedo começar o processo de divulgação das pesquisas maior a propensão daqueles dois candidatos que largaram na frente de se consolidarem como as melhores opções, mesmo que seus índices não sejam muito altos.
Segundo Lima (2004b) foi nas eleições presidenciais de 1989, onde Collor se elegeu, que a divulgação das pesquisas de intenção de voto e suas simulações de segundo turno primeiro mostraram seu poder no Brasil. Existe um paralelo entre a subida vertiginosa de Collor nas pesquisas estimuladas de intenção de voto e a veiculação no rádio e na televisão dos programas políticos anuais dos três partidos da coligação ao qual o candidato pertencia. A construção do CR-P no telejornalismo da rede Globo teve pelo menos duas vertentes principais, a cobertura favorável a Collor e a divulgação de pesquisas com projeção de votação em relação aos prováveis adversários de Collor no segundo turno (simulações de segundo turno) e a divulgação, ou omissão, dos resultados quinzenais/semanais das pesquisas no primeiro turno (LIMA 2004b). Estas pesquisas
incluíam uma pergunta aos eleitores que projetava a disputa para o segundo turno e, como Collor não mais perdeu o primeiro lugar desde abril – sete meses antes de 15 de novembro – a questão era saber quem seria o seu adversário. Dito de outra forma, a pesquisa passou a se comportar como se um dos vencedores do primeiro turno já pudesse estar definido e a fixar na memória do eleitor o nome de Collor como sendo este vencedor (LIMA, 2004b, p.238).
Para Lima (2004b) a periodicidade das pesquisas publicadas pelo instituto Ibope teve oscilação. O comentário em São Paulo era “quando Collor cai o Ibope não sai”. Foi com base no estudo feito sobre o CR-P das eleições de 1989 que Lima chegou à conclusão da “vitória antecipada” de Collor. O autor faz ainda referência sobre a pesquisa realizada pelo IPEP (Instituto de Pesquisa de Pernambuco) e pelo mestrado em ciência política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que constatou que a pesquisa eleitoral influi diretamente na decisão de 41,5% dos entrevistados e outros 43% consideraram a pesquisa muito importante porque determina se o candidato tem boa chance de ganhar.
Os eleitores indecisos, que retardam a sua tomada de decisão na expectativa de que algum novo evento os ajude a decidir em quem votar, são os mais vulneráveis às expectativas de vitória divulgadas pelas pesquisas (VEIGA, 1996). A tendência destes eleitores é se alinharem ao lado do candidato mais forte. O eleitor percebe a força de um candidato através do CR-P apresentado pelos mídia, observando o cotidiano, o número de bandeiras, adesivos, em conversas com conhecidos. Os eleitores que tem um candidato com menos chances de ganhar caem crescentemente em silêncio e contribuem, assim, para a sua derrota.
CASOS ESPECÍFICOS NO RS
No caso da eleição de Fogaça para a Prefeitura de Porto Alegre em 2004, os candidatos que apresentaram, nas primeiras pesquisas, bons índices de intenção de voto ou ainda, que tiveram, nas pesquisas subseqüentes, crescimento expressivo maior que o de Fogaça, na reta final da campanha apresentaram queda ou tiveram seu crescimento freado por não apresentarem, nas simulações de segundo turno, a capacidade de derrotar o PT, qualidade necessária para aglutinar o voto útil.
Dois outros casos nas eleições gaúchas fortalecem a importância de continuar a pesquisa sobre o apelo ao voto útil e sua possível influência no resultado eleitoral. A eleição de Rigotto para governador em 2002, onde o candidato começou a subir nas pesquisas depois que apareceu nas simulações de segundo turno como bem cotado para vencer Tarso Genro e passou a “tirar” votos de Britto (ANALISO O CASO AMANHÃ) e a eleição de Yeda Crusius para governadora, em 2006, que em uma virada histórica tirou o governador Rigotto da disputa já no primeiro turno. Baseados nas pesquisas de simulação de segundo turno eleitores de Rigotto teriam votado em Yeda para tirar o PT do segundo turno ao terem avaliado que a candidata Yeda era mias fácil de vencer do que Olívio e o PT.
No contexto político das eleições no Rio Grande do Sul as pesquisas influenciaram principalmente ao despertar um comportamento latente nos gaúchos: a polarização da eleição entre dois partidos, ou dois blocos ideológicos, apontando quem são os dois candidatos mais fortes para a disputa, sinalizando em direção ao voto útil. Concluída esta análise, podemos assumir que toda vez que o quadro se repetir e tivermos, nos municípios gaúchos, disputas políticas divididas entre um grupo político “A” e um grupo “anti-A”, a tendência é que o apelo ao voto útil, através da utilização de pesquisas de simulação de segundo turno, influencie de forma decisiva o resultado final da eleição.
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