segunda-feira, 15 de março de 2010

VOLATILIDADE ELEITORAL E VOLATILIDADE IDEOLÓGICA

Sobre as características específicas da maioria do eleitorado brasileiro buscamos em Silva (2004) uma definição que parece resumi-las muito bem:

a maioria dos eleitores brasileiros não acredita nos partidos e, de modo geral, não se interessam por política. O comportamento eleitoral das camadas populares do eleitorado, que numericamente decidem uma eleição, caracteriza-se por uma vulnerabilidade e volatilidade eleitoral. (...) decidem seu voto em função da imagem e de atributos pessoais dos candidatos, apresentam baixo grau de informação e interesse político e, aparentemente, optam pela distância e descrença em relação à política. (...) A cada eleição, munidos unicamente de esperanças e não de mecanismos de participação política, os eleitores introjetam em seus sistemas de crenças uma certa expectativa. A cada promessa não cumprida, a cada escândalo de corrupção ou de uso indevido de recursos públicos, as expectativas da população revertem-se em frustrações (SILVA, 2004, p.56).

Em relação à volatilidade eleitoral e a volatilidade ideológica no Brasil Peres (2002) revela que a instabilidade vem registrando tendência declinante e que a volatilidade ideológica, onde os eleitores flutuam entre diferentes blocos ideológicos, é menor em relação aos europeus. Isso significa dizer que é está mais difícil um eleitor mudar o voto de um bloco ideológico para outro. Os índices de volatilidade eleitoral apresentados pelo autor refletem que a maioria dos eleitores flutuam entre partidos do mesmo bloco ideológico: centro, esquerda e direita

o grau de estabilidade das preferências eleitorais brasileiras permite inferir que o sistema não é caótico, pelo contrário, este estrutura satisfatoriamente o comportamento eleitoral. Os dados também mostram que a volatilidade ideológica é bastante reduzida e apresenta uma dinâmica declinante, o que significa que a clivagem ideológica tem funcionado como delimitador da estruturação da competição interpartidária (PERES, 2002, p.14).

Em relação à volatilidade eleitoral o autor nota que a taxa média brasileira é relativamente elevada em relação à européia e intermediária em relação à América Latina, mas constata, ao analisar as eleições entre 1982 e 1998, que a taxa média brasileira está em queda. Em relação à volatilidade ideológica, o Brasil, na última eleição analisada, apresentou uma média de 1,7%, menor do que a média de qualquer país europeu analisado. Este dado já seria o suficiente para invalidar qualquer afirmação de que não existe ou que existe pouca consistência na estruturação das preferências eleitorais em termos ideológicos no Brasil:

No caso brasileiro, a coexistência de volatilidade eleitoral partidária relativamente elevada com volatilidade eleitoral ideológica relativamente baixa, significa que o sistema partidário estrutura suas preferências em termos ideológicos e que existe uma competição elevada entre os partidos que pertencem a um mesmo bloco. Ou seja, o sistema é competitivo e a competição maior ocorre entre partidos que pertencem à mesma ideologia (PERES, 2002, p.42).


Fontoura (2002) cita André Singer e Yan Carreirão como dois pesquisadores que defendem que existe correlação entre as posições ideológicas do eleitorado e sua escolha eleitoral. Singer propõe que os eleitores brasileiros, embora não possuam um pensamento político estruturado, captam, intuitivamente, por meio de categorias como esquerda e direita, o sentido geral das orientações dos partidos e candidatos. Para ele, apesar dos eleitores captarem intuitivamente as categorias esquerda/direita, tendem “a votar coerentemente com seu auto-posicionamento e não de modo indiferenciado” (FONTOURA, 2002, p.28). Seguindo nesta linha Carreirão, analisando dados de surveys entre 1989 e 1997, aponta existir “uma correlação de intensidade variando de moderada a substancial – entre o posicionamento numa escala esquerda-direita e o voto para presidente, para o conjunto do eleitorado brasileiro” (FONTOURA,2002, p. 29).

A ideologia esquerda-direita tem o poder de aglutinar os eleitores em blocos, acirrando as clivagens políticas em épocas eleitorais (RANINCHESKI,1998). Esquerda e direita não são apenas ideologias, mas visões de mundo diferentes, projetos políticos de sociedade. Bobbio, citado por Ranincheski (1998, p.75), explicita: “(...) contraste não só de idéias, mas também de interesses e de valorações a respeito da direção a ser perseguida pela sociedade.”

A taxa de volatilidade ideológica declinou na maioria dos estados brasileiros (PERES, 2002). O índice é fruto do agrupamento de partidos em blocos com a mesma orientação ideológica. Peres não considera incoerentes as mudanças de voto entre partidos de um mesmo bloco, segundo a sua análise sobre o caso do Rio Grande do Sul, a partir de 1990, a volatilidade eleitoral ideológica quase inexiste, caindo de 18,9% (1986-1990) para 2% (1990-1994) , dividindo em dois blocos, de 1982-1990 a 1990-1998 a queda é de 17,2% para 2,95%. Isso indica que as clivagens ideológicas são fortes no Estado e tem-se acentuado nas últimas eleições.

(amanhã publico sobre o comportamento eleitoral no Rio Grande do Sul)

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