quinta-feira, 18 de março de 2010

Eleição para Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 2002 – um breve estudo de caso

O trabalho de Biancamano (2003), mostra que nas eleições para o governo do estado do Rio Grande do Sul em 2002 os gaúchos estavam suscetíveis a serem influenciados pela divulgação das pesquisas de simulação de segundo turno, como pudemos ver na vitória de Rigotto sobre o projeto de reeleição petista.

Biancamano (2003) observa que o discurso VIPOLU, criado para a campanha de Germano Rigotto, candidato do PMDB, foi elaborado com base em uma pesquisa qualitativa realizada antes do início do HPEG e que determinou o público alvo e a linguagem que seria utilizada durante toda a campanha. As pesquisas tinham detectado que naquele momento os gaúchos estavam cansados da polarização encarnada pelos candidatos Antônio Britto, do PPS e Tarso Genro do PT, e não queriam ver brigas ou críticas nos programas da campanha dentro do HPEG.

A campanha acertou o alvo. Rigotto, que se mantinha em quarto lugar nas cinco primeiras pesquisas publicadas, deu um salto na primeira pesquisa CEPA/UFRGS publicada após o início do HPEG, em 12 de setembro 2002, indo para o terceiro lugar. 

No dia 19 de setembro outra pesquisa CEPA/UFRGS é publicada e mostra que apesar de Rigotto ainda estar em terceiro lugar na estimulada, nas simulações de segundo turno ganharia de Britto e de Tarso. É a primeira pesquisa onde Rigotto se apresenta como candidato capaz de vencer Tarso, fator indispensável para aglutinar os votos do bloco. Biancamano mostra que desta pesquisa para a próxima, Rigotto cresce quase 5 pontos em uma semana e entra em empate técnico com Britto, em segundo lugar. A partir deste ponto o que se vê é uma migração de votos de Britto para Rigotto, o que faz com que o candidato do PPS caia consideravelmente na pesquisa posterior da CEPA/UFRGS, publicada em 03 de outubro 2002, indo para o terceiro lugar, quase 13 pontos percentuais atrás de Rigotto. Este fato confirma a volatilidade eleitoral dentro de um mesmo bloco ideológico, baseada na lógica do voto útil.

O eleitorado estava procurando um candidato para vencer o PT e depois que constataram a viabilidade da campanha de Rigotto preferiram-no a Britto. As intenções de voto em Tarso Genro permanecem inalteradas do meio até o fim do primeiro turno, mantendo aproximadamente 34% por quatro pesquisas sucessivas do instituto CEPA/UFRGS em 12 de setembro de 2002; 19 de setembro de 2002; 26 de setembro de 2002 e 03 de outubro de 2002.

Ao final do primeiro turno Tarso faz 37,25% dos votos e Rigotto 41,17% dos votos, vencendo, posteriormente, a eleição para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Na primeira pesquisa publicada no segundo turno, no dia 9 de outubro, Germano Rigotto tem 58,8% das intenções de voto e Tarso 35,8%.

Britto que tinha começado a disputa em segundo lugar com 34,3% dos votos, conforme a pesquisa CEPA/UFRGS publicada em Zero Hora do dia 10 de maio de 2002, acaba o primeiro turno com apenas 12,31% dos votos. Os votos de Britto migraram para Rigotto após a divulgação de pesquisas de simulação de segundo turno que demonstravam que Rigotto venceria Tarso. Esta eleição nos indica, claramente, o caminho aberto para a apelação ao apelo ao voto útil no Rio Grande do Sul.

Sobre a influência das pesquisas no resultado da eleição de Rigotto, Silva (2004) coloca que as pesquisas publicadas dentro dos programas de Rigotto, no HPEG, enfatizavam que o candidato do PMDB venceria qualquer um dos demais no segundo turno (simulação de segundo turno). O CR-P de vitória foi construído também com a veiculação de trechos de opiniões sobre o crescimento de Rigotto emitidas por colunistas políticos nos jornais. Na conclusão do trabalho de Silva sobre as eleições de 2002 a autora ressalta a importância da utilização das pesquisas dentro da elaboração dos CR-P's:

Tal variação na construção da imagem de candidatos e partidos verificada durante o tempo de veiculação dos programas eleitorais dá margem para outra constatação: a de que as pesquisas de opinião, em determinadas ocasiões, tornaram-se elementos centrais nos ditames da elaboração dos programas do HPEG. Desta forma, afirma-se que os cenários de representação da política construídos pela mídia nas eleições de 2002 foram incorporados aos discursos dos programas eleitorais. A afirmação considera, em primeiro lugar, a mudança de tônica das mensagens ocorridas em conformidade com momentos diversos de divulgação de pesquisas, estabelecendo mudanças de rumo nos recursos utilizados na campanha pela TV. E, em segundo, as referências – positivas e negativas - feitas pelos programas a respeito das predições eleitorais e dos institutos de pesquisa envolvidos (SILVA, 2004, p. 97-98). Silva (2004) também destaca que o universo jornalístico ao interpretar, traduzir e dar visibilidade na divulgação das pesquisas teve forte influência na composição do CR-P que permitiu a vitória de Rigotto, tornando-o um candidato viável a aglutinar o voto útil ant-PT.

2 comentários:

  1. FErnanda,
    Nem sempre as coisas se repetem. A disputa será renhida neste ano. Mas dado a boa performance do governo Lula, do crescimento da Dilma, Tarso vai ser muito beneficiado.
    Adeli Sell, vereador e presidente do PT-POA

    ResponderExcluir
  2. Fernanda querida, parabéns pelo blog. Muito oportuno. Tenho minhas dúvidas sobre esta suposta influência das pesquisas na decisão de voto. Acho que o que o que os eleitores realmente querem são opções aos atores destas peças que são obrigados a assistir. Eles estão entre o desânimo e o desencanto.
    Jefferson Jaques
    Instituto Methodus

    ResponderExcluir

obrigado por participar!